O uso de corticoides durante o tratamento para COVID-19 ainda gera muita controvérsia, pois até pouco tempo atrás não havia comprovação científica do benefício do seu uso. Mesmo assim, muitos da comunidade médica utilizavam a corticoterapia para evitar a progressão da resposta inflamatória e do comprometimento respiratório.
Um dos corticoides estudados para o tratamento da doença é a Metilprednisolona, a qual inicialmente gerou certo entusiasmo na comunidade científica. Esse fármaco é um glucocorticoide (corticosteroide) sintético e é muito utilizado na medicina por sua atividade imunossupressora, antialérgica e anti-inflamatória. Seu mecanismo de ação envolve inibir a formação do ácido araquidônico, o que consequentemente reduz processos como cicatrização, inflamação, resposta imune e vasodilatação. No geral, as ações anti-inflamatórias dos corticoides envolvem as proteínas inibidoras fosfolipase A2 e lipocortinas, as quais são responsáveis por controlar a biossíntese de mediadores da inflamação, como as prostaglandinas e leucotrienos.
Mediante isso, foi realizado aqui no Brasil um ensaio clínico duplo cego com pacientes hospitalizados de idade maior ou igual a 18 anos, e com suspeita clínica. Posteriormente, a infecção pelo coronavírus foi confirmada em 81,3% dos indivíduos por RT-PCR. Metade dos pacientes recebeu metilprednisolona intravenoso (0,5 mg / kg) e a outra metade recebeu placebo (solução salina), duas vezes ao dia, por 5 dias.
Após 28 dias de experimento, os resultados demonstraram que o uso deste medicamento, por um curto período de tempo, não reduziu o índice de mortalidade da doença nos pacientes hospitalizados. Ou seja, não houve diferença entre o grupo que utilizava a metilprednisolona e o que usava placebo. A única evidência encontrada foi em um pequeno subgrupo de idosos, o qual teve sua mortalidade levemente reduzida ao final do tratamento, gerando dúvidas se isso se deveu realmente ao uso do fármaco. Além disso, outra problemática encontrada foi que alguns pacientes precisaram de terapia com insulina, em função da hiperglicemia ocasionada pelo corticoide. Os dados apresentados demonstram que a metilprednisolona não aparenta ser eficaz no tratamento contra o coronavírus na população em geral.
Sob esta perspectiva, é crucial relembrar a importância do uso racional de medicamentos. Apesar de a mídia ter apontado esse fármaco de forma positiva, assim como tantos outros, após os estudos percebeu-se que não há redução considerável na mortalidade de pacientes com COVID-19. Assim, é necessário aguardar os resultados científicos das pesquisas medicamentosas e somente utilizar o medicamento sob prescrição médica, o que evita o uso irregular, incorreto e até prejudicial do fármaco.
Por fim, muitas pessoas podem ter comprado a metilprednisolona de forma antecipada e, como sua eficácia contra o coronavírus já foi eliminada, podem acabar descartando esse medicamento de forma incorreta. Esse descarte inadequado, por sua vez, pode gerar problemas em pessoas e animais que ingerem água contaminada pelo medicamento, como aumento da pressão arterial, aumento da glicemia, diabetes, depressão e redução da imunidade. Por isso, deve-se sempre ter em mente que a compra deve ser orientada por um médico e que o seu descarte deve ser realizado de forma correta e consciente. Para tanto, pode-se procurar farmácias ou postos recolhedores de remédios, os quais podem ser localizados pelo site eCycle.
Referências:
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciaa1177/5891816?searchresult=1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Metilprednisolona
https://www.drakeillafreitas.com.br/o-perigo-do-uso-errado-de-corticoides/