Em abril deste ano foi realizado um ensaio clínico de um anti-inflamatório chamado Colchicina, por pesquisadores da USP, com apoio da FAPESP. Apesar de ainda não submetido, o trabalho científico foi examinado minuciosamente por especialistas, com resultados iniciais positivos. O remédio utilizado para tratamento da doença Gota mostrou otimizar a recuperação de pacientes acometidos pelo coronavírus em estados moderado e grave.
O ensaio clínico realizado foi controlado, randomizado e duplo-cego, ou seja, nem os médicos nem os pacientes sabiam quem estava tomando o composto ativo e quem estava tomando o placebo, método este considerado padrão ouro. Os participantes do ensaio foram separados aleatoriamente em dois grupos, totalizando 35 pacientes (18 do grupo placebo e 17 do grupo tratado com colchicina). Ao analisar os resultados, os pesquisadores concluíram que a colchicina foi benéfica em três parâmetros:
1. Redução do tempo de oxigenoterapia
2. Redução do tempo de internação
3. Redução rápida dos níveis de proteína C-reativa no sangue (principal marcador de inflamação)
Segundo os pesquisadores, a Colchicina atua nos neutrófilos e macrófagos (células do nosso sistema imune), amenizando a chamada “tempestade de citocinas inflamatórias”, um quadro comum em pacientes graves. Dessa forma, pode-se obter uma redução na inflamação pulmonar que poderia levar a uma insuficiência respiratória.
Como o ensaio clínico ainda está nas fases iniciais, na etapa seguinte os pacientes convidados saberão que estão tomando o medicamento, diferente da fase anterior. Além disso, os critérios de inclusão serão menos restritos, podendo participar, por exemplo, pacientes com câncer e outras doenças crônicas.
Por fim, vale ressaltar que é muito importante que estudos como esse estejam ocorrendo para amenizar os sintomas do coronavírus, porém a administração desses medicamentos deve ser feita apenas em ambiente hospitalar e sob orientação médica. Como já comentado diversas vezes por nosso grupo, ainda não há um medicamento específico e eficiente no tratamento da COVID-19. Outros fármacos que já citamos encontram-se em diferentes etapas de teste. Já pudemos acompanhar a Hidroxicloroquina, por exemplo, que teve sua eficiência descartada e saiu da corrida para um novo tratamento; enquanto o Favipiravir e Remdesivir continuam sendo testados.
Contudo, muitas vezes, quando surgem resultados promissores, ocorre um entusiasmo grande da população e muitos querem adquirir logo o medicamento, como pudemos ver ao longo da pandemia. Entretanto, o uso irracional desses fármacos pode aumentar os riscos de intoxicação e manifestar efeitos adversos. Ademais, o descarte incorreto desses remédios pode provocar sérios problemas ambientais, como contaminação hídrica, animal e de solo.
Referências:
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/08/14/anti-inflamatorio-colchicina-acelera-recuperacao-de-pacientes-com-covid-19.htm
https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/08/17/interna_nacional,1176830/remedio-para-gota-pode-ajudar-na-recuperacao-de-infectados-com-a-covid.shtml
https://jornal.usp.br/ciencias/medicamento-para-crises-de-gota-diminui-a-inflamacao-pulmonar-causada-pela-covid-19/