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Junho Ambiental: esgoto e resistência bacteriana


Olá! Hoje, dia 30 de junho, temos nosso último texto da Série “Junho Ambiental”, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). Ao longo do mês, postamos uma série de textos falando sobre os diversos aspectos relacionados ao descarte incorreto e o impacto de medicamentos, principalmente antibióticos, e suas consequências no ecossistema; hoje, fecharemos falando do esgoto e seu papel no aumento da resistência bacteriana a antibióticos.

Quando falamos em “esgoto”, devemos lembrar a definição deste termo: ação ou efeito de esgotar, de consumir por completo; esgotamento. Desta forma, diversas atividades geram o líquido que compõe o esgoto: atividades domésticas/comerciais (esgoto doméstico), atividades hospitalares (esgoto hospitalar) e atividades industriais (esgoto industrial). A partir de todas as atividades, o esgoto é poluente, pelo fato de conter potenciais microrganismos patogênicos (que causam doença) e/ou substâncias tóxicas que podem advir da atividade desempenhada, ou podem ser formadas já no esgoto. Sendo assim, este líquido (efluente) deve ser devidamente tratado antes de ser despejado em um corpo receptor: rio, córrego, baía, mar...

Conforme a Resolução Nº 430/11 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) há critérios específicos a serem cumpridos pela fonte poluidora: Art. 3º “Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente nos corpos receptores após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis”. Além disso, conforme a capacidade do corpo receptor, ou seja, largura e vazão do rio, correntes marítimas, dentre outros fatores, podem ser acrescentadas outras condições e padrões para o lançamento de determinado efluente, de forma a restringir ainda mais suas condições.

O tratamento do esgoto vai diferenciar conforme sua origem, o que está diretamente relacionado ao seu potencial poluidor. Quando falamos em problemas relacionados a descarte de antibióticos, ou à presença do mesmo em efluentes de esgotos, temos como principais “participantes” os efluentes domésticos e hospitalares. Estes são coletados pela rede de esgoto e destinados às Estações de Tratamento de Esgoto (ETE). Ocorre, então, o tratamento preliminar, que remove apenas sólidos grosseiros, flutuantes e matéria mineral sedimentável. A partir disso, o tratamento difere conforme a ETE: - Tratamento primário: remove sólidos inorgânicos e matéria orgânica em suspensão; - Tratamento secundário: remove os sólidos inorgânicos e matéria orgânica dissolvida e em suspensão; - Tratamento terciário: visa obter um efluente de alta qualidade, ou a remoção de outras substâncias contidas nas águas residuárias.

Dentre os diferentes níveis, há ainda diversos processos que podem ou não ser implementados, conforme a ferramenta tecnológica utilizada pela empresa gestora.

Os antibióticos vêm sendo detectados, ao longo do tempo, tanto no ambiente – águas residuais, superficiais, subterrâneas, marinhas; quanto em água potável. Conforme os estudos na área, o mais alarmante, na questão dos antibióticos, é que a porção ingerida e não metabolizada pelo nosso organismo corresponde a até 70% de todo medicamento ingerido, ou seja, a maior parte do fármaco que ingerimos é excretada nas fezes e urina como um composto ainda ativo. Desta forma, chegam às ETE de forma ativa e exercendo pressão seletiva nos contaminantes habituais do esgoto, além de estas liberarem ainda uma grande fração destes medicamentos no ambiente, através de seus efluentes tratados ou no próprio solo, como falados nos textos “Junho Ambiental: O impacto dos antibióticos na água” e “Junho Ambiental: os impactos dos antibióticos no solo”. Isto porque a remoção destes compostos varia de acordo com os tipos de tratamento, bem como com as propriedades físico-químicas do medicamento – visto que os tratamentos não são eficazes na remoção destes compostos.

Diversos estudos vêm publicando, há cerca de 15, 20 anos, a presença de bactérias resistentes ou multirresistentes, bem como a detecção de genes de resistência, nas águas brutas e nas águas residuais tratadas, advindas dos sistemas de tratamentos de esgoto no mundo todo. Desta forma, alguns trabalhos sugerem que as estações de tratamento sejam locais propícios à proliferação destas bactérias, visto que apresentam quantidades consideráveis de antibióticos ativos que exercem pressão seletiva sobre as mesmas e grandes quantidades de matéria orgânica para se multiplicarem.

Assim, apesar de os sistemas de tratamento reduzirem a quantidade de bactérias totais em seus efluentes, um número considerável de bactérias multirresistentes é continuamente despejada em corpos receptores urbanos, sendo muitos deles águas recreacionais.

Ainda não se sabe, efetivamente, qual o impacto da presença contínua de bactérias multirresistentes em águas recreacionais, visto que muitas delas podem ser incorporadas na microbiota humana. Entretanto, sabe-se que a disseminação da resistência bacteriana deve ser freada, sendo um problema de saúde pública mundial. Portanto, nesse mês voltado ao meio ambiente, que todos nós façamos a nossa parte para impedir que esse problema se torne cada vez mais severo. Por muito as informações epidemiológicas e científicas ficam restritas a uma pequena parcela das pessoas, a divulgação e o entendimento dessas questões é essencial para toda a sociedade, tanto para evitar a disseminação de novas doenças quanto para a compreensão de como nossas ações afetam a todos; estamos todos interconectados no que chamamos de ecossistema.

Por fim, encerramos esse bloco do nosso projeto, esperamos que todos que nos acompanharam tenham gostado de nosso Junho Ambiental!

Referências: https://www.unil.ch/gse/files/live/sites/gse/files/viefaculte/2015-tim/Kummerer-2009.pdf https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23266388/ https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3293510/ https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5700321/ https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0732889313000606?via%3Dihub https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0147651313000328 https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0045653514002446 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0048969713000429?via%3Dihub http://submission.quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/2003/vol26n4/14.pdf https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0147651313000304 https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=114770 https://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/bid/338190/como-funciona-o-tratamento-de-efluentes-industriais https://teoriaedebate.org.br/2012/07/13/como-funciona-uma-estacao-de-tratamento-de-esgoto/ https://www.mma.gov.br/estruturas/dai_pnc/_publicacao/76_publicacao19042011110356.pdf http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf http://info.opersan.com.br/n%C3%ADveis-de-tratamento-de-efluentes

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