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Junho Ambiental: os impactos dos antibióticos na agropecuária


Hoje, em mais um texto do junho ambiental, falaremos de um assunto que correlaciona o impacto de antibióticos no solo e na água com a utilização de antibióticos na agropecuária. No Brasil, o agronegócio representa uma das principais atividades econômicas, tendo sido considerado o maior exportador de carne bovina do mundo em 2019. Essa atividade costuma realizar uma produção intensiva e de larga escala, havendo também um alto consumo de antibióticos. Em 2010 o uso desses atingiu exorbitantes 63.151 toneladas na pecuária, com projeções futuras para 2030 preveem um aumento de até 67%.

Esses compostos químicos, também utilizados para fins terapêuticos pela medicina veterinária, são utilizados há uns 60 anos como promotores de crescimento animal na pecuária, sendo administrados em baixas doses por todo o período de criação, com o objetivo de reduzir o tempo de criação e de melhorar o desenvolvimento animal. Os pecuaristas usam esse artifício porque esses medicamentos auxiliam na absorção animal de vitaminas, minerais e aminoácidos; melhoram a qualidade da microbiota presente no trato digestório dos animais, interferindo na diminuição da produção de toxinas bacterianas e na redução do tamanho e peso do trato digestório animal. Entretanto, o uso indiscriminado dos antibióticos, sem respeitar a dosagem correta e/ou o período mínimo de carência (tempo necessário entre o uso do antibiótico no animal e seu abate ou geração de leite) pode gerar a contaminação dos produtos de origem animal. A produção animal em larga escala aumentou a importância do manejo dos antibióticos, pois pode favorecer a evolução da resistência antimicrobiana e selecionar estirpes resistentes, como já discutido anteriormente por nós. Isso já foi descrito por diversas pesquisas que demonstram o alto índice de microrganismos resistentes em produtos de origem animal.

Outro ponto importante a ser abordado é que muitos destes antimicrobianos não são totalmente metabolizados pelo organismo desses animais, sendo excretados pelas fezes e urina e acumulando no solo e em ambientes aquáticos próximos às criações. Mesmo que isso ocorra em baixas concentrações, essas substâncias são capazes de desequilibrar o ecossistema. Junto a isso, também é comum a utilização das fezes animais (estrume) como adubo na agricultura, tornando-as as principais formas de disseminação dos resíduos antibióticos no ambiente e de patógenos. Esses, por sua vez, podem se acumular no solo e nos tecidos vegetais, além de serem transportados para efluentes próximos às criações animais.

Desde 1998, muitos medicamentos são proibidos de serem utilizados como promotores de crescimento no Brasil. Embora o Brasil ainda esteja preparando um plano nacional de vigilância, várias mudanças na legislação e programas oportunos foram implementados. Entretanto, a junção do consumo, com descarte e manipulação inadequados se tornam mais um agravante, tanto para quem consome produtos animais, quanto para o entorno dos locais de produção intensiva. Isso se deve, principalmente, à intensificação na seleção das bactérias resistentes e possível favorecimento da transferência de genes, o qual é um processo natural que pode ocorrer em diversos ambientes.

Por fim, ainda são pouco conhecidas as consequências da exposição a longo prazo, e em baixas concentrações, durante o consumo indireto de antibióticos. Porém, é urgente a necessidade da utilização de compostos químicos substitutos, como extratos vegetais e probióticos, na criação animal, além da melhora da sanitização e fiscalização nos criadouros, pois diminuiria a incidência de infecções bacterianas. Ademais, é necessário o monitoramento veterinário dos animais para prevenção de doenças - como fornecimento de alimentos nutritivos- bem como deve-se ser garantida uma contaminação mínima do estrume utilizado como fertilizante.

Referências: http://sban.cloudpainel.com.br/files/revistas_publicacoes/488.pdf https://www.bbc.com/portuguese/geral-50119820 http://revistasafra.com.br/o-sucesso-das-tecnologias-alternativas-para-reducao-do-uso-de-antibioticos-na-pecuaria/ https://www.ecycle.com.br/component/content/article/9-no-mundo/4252-uso-excessivo-de-antibioticos-na-agropecuaria-ameaca-saude-e-seguranca-alimentar.html https://actavetscand.biomedcentral.com/articles/10.1186/1751-0147-43-S1-S69 https://www.abracomex.org/exportacao-de-carne-mundial#:~:text=Em%20alta%3A%20Brasil%20se%20consolida%20como%20maior%20exportador%20de%20carne%20do%20mundo,-02%2F05%2F2019&text=Em%20dezembro%20de%202018%2C%20a,1%2C64%20milh%C3%A3o%20de%20toneladas. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6616856 https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/694/o/13_07.pdf https://www.mdpi.com/2076-2615/10/4/552/pdf

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