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Dexametasona: luz no fim do túnel?


Inúmeros estudos já foram publicados em diversas revistas científicas em busca do desenvolvimento de um tratamento padrão contra a COVID-19. Muitos desses resultados não apresentaram, de fato, um efeito positivo sobre os pacientes, como discutimos em nosso texto “Uso e descarte de medicamentos na pandemia da COVID-19”. Entretanto, recentemente, foi anunciado por um grupo de pesquisa inglês, em parceria com a universidade de Oxford, uma nova terapia que apresentou resultados bem satisfatórios.

Este ensaio clínico Britânico denominado Randomised Evaluation of COVID-19 Therapy (RECOVERY) observou que a dexametasona - um medicamento barato e amplamente distribuído pelo mundo - apresentou resultados positivos quando utilizados em pacientes severamente acometidos pela COVID-19, que precisaram de alguma forma de intervenção respiratória. O estudo randomizado foi feito a partir da seleção de 6400 pacientes para o ensaio clínico; dentre estes, 4300 pacientes pertenciam ao grupo controle - recebendo tratamento padrão em caso de COVID-19, e 2104 pacientes recebendo 6mg/dia de dexametasona durante 10 dias. Além desse medicamento, o estudo visou identificar outros tratamentos que pudessem ser benéficos para pessoas hospitalizadas com suspeita ou confirmação de COVID-19.

A dexametasona é um glicocorticoide com função anti-inflamatória e imunossupressora, isto é, reduz a resposta inflamatória e, consequentemente, a resposta imune. É indicado para muitas enfermidades com o objetivo de conter as respostas imunes exageradas e fora de controle. No caso da infecção pelo novo coronavírus, uma das principais complicações é o comprometimento do sistema respiratório devido a uma resposta imune elevada, o que os cientistas e profissionais da saúde vêm chamando de tempestade imunológica ou tempestade de citocinas.

Como resultados, a dexametasona reduziu em 1/3 as mortes de pacientes em ventilação mecânica e 1/5 dos pacientes que receberam suporte de oxigênio fora da UTI. Isso significa que, a cada 8 pacientes com ventilação mecânica, 1 sobrevive devido ao uso desse medicamento e a cada 25 pacientes com suporte de oxigênio, 1 sobrevive por causa do medicamento. Embora em pacientes que não receberam nenhum tipo de intervenção respiratória o medicamento não tenha se mostrado relevante, sua importância em pacientes mais críticos parece relevante no estudo.

No Brasil, o hospital Sírio-Libanês e o laboratório Aché vão iniciar testes em 300 pacientes para observar a eficácia do medicamento dexametasona para pacientes mais críticos com COVID-19. De forma promissora, o estudo possibilitou uma nova opção no tratamento da infecção. Devido à ampla disponibilidade do medicamento, fácil aquisição, baixo custo e fácil administração, inúmeras vidas podem ser salvas, não só no Brasil ou no Reino Unido, mas em todo o mundo. Porém, é necessário pontuar alguns detalhes importantes: a dexametasona NÃO ataca diretamente o vírus, ela age na resposta inflamatória, portanto NÃO É A CURA para COVID-19; é um fármaco que interfere na resposta imune, logo, se utilizada na forma incorreta, pode inclusive AGRAVAR a doença; ela é um medicamento que pode apresentar efeitos colaterais severos e, portanto, não deve ser utilizada em pacientes que apresentam a forma leve da doença e, muito menos, como prevenção à doença.

Estes estudos ainda estão em andamento, por enquanto só temos uma nota sobre o resultado - aguardamos, ainda, a publicação do estudo completo. Sabemos que a automedicação pode ser mais perigosa do que a própria doença, portanto, sempre consulte um especialista, pois, por menores que sejam os efeitos colaterais nas doses corretas, há diversos efeitos tóxicos associados a esse medicamento, principalmente do seu uso durante a gravidez.

Referências: https://www.nature.com/articles/d41586-020-01824-5 http://www.ox.ac.uk/news/2020-06-16-low-cost-dexamethasone-reduces-death-one-third-hospitalised-patients-severe https://www.recoverytrial.net/results https://www.ems.com.br/arquivos/produtos/bulas/bula_dexametasona_10482_1010.pdf https://www.ictq.com.br/industria-farmaceutica/1419-ache-e-sirio-comecam-estudar-corticoide-no-tratamento-da-covid-19 https://consultaremedios.com.br/dexametasona/bula

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