Este mês de junho nós, do DescartUFF, estamos publicando uma sequência de textos sobre o impacto negativo que o descarte incorreto dos antibióticos gera no meio ambiente. Nessa perspectiva, hoje abordaremos a formação de superbactérias relacionada a esse descarte errôneo. Mas qual é a importância de entender o que elas representam e tentar prevenir o aparecimento dessas superbactérias?
As bactérias, assim como todos os microrganismos, estão naturalmente presentes em todos os lugares: no ambiente, nos humanos e nos outros animais. Elas fazem parte do ecossistema e microssistema natural. Estão em nosso próprio corpo, no qual possuímos uma população de microrganismos superior ao número total de nossas próprias células. As bactérias também são responsáveis por manter nosso corpo saudável, ajudando na proteção contra microrganismos invasores, na absorção de nutrientes, produzindo vitaminas e ouros metabólitos importantes para nós. Entretanto, algumas são capazes de causar danos às células do nosso organismo, levando ao desenvolvimento de uma doença. Para tratar estas doenças infecciosas bacterianas é que servem os antibióticos, os quais provocam a morte bacteriana ou paralisam seu crescimento, dando ao nosso sistema imune o tempo necessário para que faça a "limpeza".
Entretanto, a utilização desse medicamento de forma irracional ou para combater erroneamente doenças que apresentam uma origem diferente da bacteriana, intensifica a seleção de bactérias resistentes. Durante o uso de antibióticos, contudo, nós atingimos a população de bactérias patogênicas (que estão causando a doença) e, também, as bactérias presentes em nossa microbiota (que estão sempre conosco, nos ajudando). As bactérias resistentes — que não morrem com o tratamento — podem também fazer parte da microbiota, em nosso organismo, mas geralmente estão em menor número. Contudo, com o tratamento inadequado, elas podem encontrar o espaço para se multiplicar; desta forma, no caso de uma doença oportunista causada por algum desequilíbrio (onde a bactéria responsável é uma destas presentes na microbiota), os tratamentos prévios desnecessários podem acabar acarretando em infecções de difícil tratamento.
Esse processo de resistência ocorre pela seleção natural de algumas bactérias; quando expostas ao antibiótico, as bactérias mais resistentes sobrevivem, podendo passar suas características de resistência e mutações para as próximas linhagens durante a reprodução ou por compartilhamento genético, originando cepas de bactérias resistentes ao antibiótico utilizado. No meio ambiente, o processo não é diferente e uma das formas de levar à multirresistência — resistência a vários antibióticos — é pelo descarte inadequado de medicamentos. Essa atitude, por sua vez, expõe esses microrganismos aos antibióticos por mais tempo e a dosagens menores do medicamento, gerando um aumento na pressão seletiva e uma menor morte, consequentemente aumentando a população de bactérias multirresistentes.
A OMS estima que caso outras medidas de prevenção de infecções sejam utilizadas, pode ocorrer uma redução de até 39% na origem de superbactérias. Mas por que toda essa preocupação com as superbactérias? Como já dito, a multirresistência de uma bactéria a torna imortal frente alguns antibióticos, dificultando o tratamento em caso de alguma doença. Dessa forma, as doenças causadas por essas bactérias tendem a ser mais severas pois, como as tentativas terapêuticas falham, a infecção persiste, piorando as lesões e aumentando a morbidade do paciente.
Por fim, outro fato relevante é que as bactérias multirresistentes estão, muitas vezes, associadas às infecções hospitalares, apesar de não serem restritas a ela. Uma das principais bactérias resistentes a medicamentos é Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). MRSA está presente em praticamente todo o mundo, tanto causando doença comunitária, quanto em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), onde causa sérios problemas. Essa superbactéria encontrada nos hospitais, além de ser resistente a vários antibióticos, é capaz de colonizar instrumentos médicos. Outro exemplo também conhecido é KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase), que ganhou o título de superbactéria por produzir uma enzima capaz de inativar os principais fármacos utilizados para o tratamento de infecções graves. Portanto, o conhecimento sobre os procedimentos corretos e acesso a um diagnóstico detalhado para a melhor forma de tratamento é essencial, para que, um dia, não apareça uma infecção intratável!
Referências: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/9-no-mundo/6134-antibiotico-na-natureza-superbacteria-onu.html https://profissaobiotec.com.br/antibioticos-superbacterias-o-que-voce-tem-a-ver/ http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/superbacterias-de-onde-vem-como-vivem-e-se-reproduz-1/219201/pop_up?inheritRedirect=false https://www.mastereditora.com.br/periodico/20150101_115618.pdf https://saude.abril.com.br/medicina/bacterias-multirresistentes-sao-identificadas-fora-do-ambiente-hospitalar/ https://www.nature.com/news/scientists-bust-myth-that-our-bodies-have-more-bacteria-than-human-cells-1.19136