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Junho ambiental: O descarte de Azitromicina em Tempos de COVID-19


Diante da atual pandemia, diversas pesquisas têm buscado um medicamento eficaz para combater a COVID-19. Dentre elas, inicialmente o antibiótico Azitromicina, associado à hidroxicloroquina, obteve resultados positivos nas fases iniciais de teste - como já comentado em nosso site. Porém, apesar de a associação ter sido descartada por apresentar efeitos colaterais, como riscos cardíacos, o tratamento empírico manteve o uso do antibiótico nestes pacientes. Além disso, devido ao otimismo inicial e à divulgação midiática, a procura em farmácias pela azitromicina aumentou de maneira significativa, fazendo com que muitas pessoas se automedicassem inadequadamente - apesar de antibióticos só poderem ser vendidos sob prescrição médica, ainda há locais que realizam a venda mesmo na ausência da receita. Nesse sentido, tendo em vista o aumento imediato do consumo desse fármaco, torna-se ímpar a discussão sobre seu descarte, visto que antibióticos são considerados contaminantes potentes e, mesmo em pequenas quantidades, podem causar grandes danos ao meio ambiente.

De acordo com alguns estudos, os antibióticos permanecem na superfície do solo, misturando-se com matéria orgânica, facilitando seu consumo por animais terrestres. Além disso, as pesquisas também apontam que estes medicamentos são altamente solúveis em água, contribuindo para a ingestão dos mesmos por animais aquáticos. Dessa forma, um malefício do descarte inadequado da azitromicina é a bioacumulação em seres terrestres e aquáticos, prejudicando a fauna, na medida em que é um composto tóxico a eles.

A bioacumulação é o processo pelo qual substâncias e compostos químicos são absorvidos pelo organismo, podendo ocorrer de duas formas: diretamente, quando substâncias são absorvidas pelo meio ambiente; ou indiretamente, a qual envolve a ingestão de alimentos que contêm essas substâncias. Ambas geralmente ocorrem simultaneamente, principalmente em ambientes aquáticos. Quando falamos em ingestão, temos o acúmulo desta substância tóxica nos tecidos de determinado organismo (animal ou planta). Assim, quando este organismo serve de alimento para outro, superior, a substância é carreada para dentro do animal predador. Desta forma, o contaminante “escala” os níveis da cadeia alimentar e aumenta sua concentração a cada “degrau” – tendo em vista que o predador irá ingerir muitas presas contaminadas ao longo de sua vida, sendo então acumulado nos seres vivos (bioacumulação).

Outro grande risco da exposição da azitromicina no meio ambiente é emergência da resistência bacteriana a este fármaco. Como já visto em nosso texto “Estudo retrospectivo: a eficácia e risco da cloroquina”, de 26/05/20, este é um antibiótico da classe dos macrolídeos, que agem impedindo a síntese de proteínas em bactérias. É considerada pela OMS como um fármaco de importância crítica para a medicina humana, fazendo parte de sua lista de medicamentos essenciais, não só por ser indicada para tratamento de diversas doenças de sistema respiratório superior (otitie, sinusite, faringite estreptocócica), mas também por ser essencial no tratamento de pneumonias atípicas (causadas por clamídias e microplasmas); além de ser indicada também para tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia e doença inflamatória pélvica por clamídias. Estas doenças são causadas por bactérias de difícil tratamento, por serem diferenciadas das demais (clamídias) ou por já apresentarem resistência a outros fármacos.

O contato bacteriano com antibióticos aumenta a pressão seletiva, logo as bactérias mais resistentes tendem a desenvolver mecanismos para escapar das ações dos antibióticos e se sobressaem, em quantidade, sobre as bactérias mais sensíveis a estes medicamentos. Nesse sentido, o descarte inadequado de azitromicina poderá favorecer o surgimento de bactérias resistentes à ela. Ou seja, “menos mais um” antibiótico para tratamento de doenças infecciosas bacterianas.

Por esses motivos, é imprescindível a conscientização da população no que se refere ao consumo sem prescrição médica e ao descarte adequado desse medicamento atualmente muito comentado. De acordo com orientações da indústria farmacêutica Eurofarma, os seguintes passos garantem o descarte adequado da azitromicina:

1. Colocar eventuais sobras de comprimidos e a cartela vazia num recipiente de 250 mL. 2. Adicionar 2 colheres de sopa de água oxigenada 10 volumes em 200 mL de água. 3. Manter a cartela e os comprimidos mergulhados por 20 minutos nessa solução. 4. Passado o tempo, retirar a cartela e enxaguar com água corrente.

A solução produzida nesse processo pode ser descartada na rede de esgoto comum da residência, pois não oferece mais riscos ao meio ambiente e não promoverá seleção de bactérias resistentes.

A devolução da embalagem primária do medicamento (a que teve contato direto com o medicamento) e do próprio fármaco residual pode ser realizada às farmácias que façam esse recolhimento para, assim, serem incinerados.

Por meio destes procedimentos, a saúde de animais e humanos não é colocada em risco.

Referências: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-06832010000300002&script=sci_abstract&tlng=pt https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-993X2019000100308&lng=en&nrm=iso https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-07072004000500007&script=sci_abstract&tlng=pt https://www.farmaceuticas.com.br/voce-sabe-como-descartar-sua-cartela-de-azitromicina-comprimido/ http://www.io.usp.br/index.php/oceanos/textos/antartida/31-portugues/publicacoes/series-divulgacao/poluicao/811-bioacumulacao-e-biomagnificacao https://www.unasus.gov.br/noticia/voce-sabe-o-que-sao-superbacterias

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