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Remdesivir: Um novo caminho ou um tratamento falho?


A corrida para o desenvolvimento de um tratamento para a COVID-19 continua a todo vapor. Nesta publicação, será abordado mais um resultado de testes realizados com outro medicamento, um antiviral chamado remdesivir, já comentado em outro texto feito pela nossa equipe “Remdesivir: da epidemia de Ebola para a pandemia do COVID-19”. O Remdesivir é um antiviral usado contra vírus de RNA, como os coronavírus. Ele foi utilizado como tratamento em outro surto, o do Ebola, que ocorreu entre 2013 e 2016. Agora, no contexto da COVID-19 e do SARS CoV-2, foram realizados novos testes com esse medicamento, tanto no EUA quanto na China.

O uso do Remdesivir contra o SARS-CoV-2 tem sido feito por alguns médicos como um método compassivo, isto é, como uma das últimas opções em pacientes graves e, por isso, tem sido alvo de pesquisas e ensaios clínicos para tentar verificar a eficácia da substância. Um ensaio publicado na revista “The New England Journal of Medicine”, com 53 pacientes de diversos continentes, demonstrou que mais da metade dos pacientes graves tiveram melhoria da oxigenação e saída do suporte de ventilação mecânica, além de receberem alta após o tratamento. Contudo, por não possuir um grupo controle, o estudo permanece inconclusivo, visto que não há como afirmar que a melhora dos pacientes pode ser associada ao tratamento com Remdesivir ou se é uma evolução natural do caso, além de possuir uma taxa de letalidade de cerca de 13%.

Outro estudo, feito pela indústria farmacêutica com 125 pacientes, demonstrou resultados surpreendentes com quase todos recebendo alta dentro de 1 semana. Entretanto, a alta não poderia ser associada ao uso do remdesivir, dado que, mais uma vez, não havia um grupo controle; logo, não é possível associar a melhora do quadro clínico ao medicamento em questão, apesar de a indústria dizer que há informações que comprovem que a medicação pode ser útil em pacientes com sintomas médios da doença.

Contudo, um dos mais recentes ensaios realizados analisou 237 pessoas e foi considerado como padrão ouro. Esse estudo infelizmente não demonstra resultados positivos, pois não houve diferença entre o número de óbitos com utilização do Remdesivir ou o grupo placebo (cerca de 13% para ambos, semelhante ao anterior citado, apenas com o Remdesivir). Esse resultado foi publicado na base de dados da OMS mas logo em seguida removido. A alegação da organização foi que a publicação era muito precoce e a agência está fazendo mais de uma análise para ter certeza, e apenas então decidir sua posição sobre o uso desse medicamento.

Por ter sido apontado por um líder mundial como mais uma esperança promissora para o tratamento da COVID-19, este medicamento já apresentou escassez em alguns estabelecimentos - como ocorreu no caso da hidroxicloroquina, já discutida extensivamente em nosso site. Estas afirmações precoces, e até mesmo sem fundamentação científica, como demonstrado acima pelos estudos até então realizados, podem ser muito perigosas, visto que os medicamentos até então sugeridos para combate a esta doença têm relativa toxicidade, com efeitos colaterais importantes. A indicação e o acompanhamento por um médico é sempre essencial.

Referências:

https://www.theguardian.com/world/2020/apr/23/high-hopes-drug-for-covid-19-treatment-failed-in-full-trial

AGOSTINI, M. L. et al. Coronavirus susceptibility to the antiviral remdesivir (GS-5734) is mediated by the viral polymerase and the proofreading exoribonuclease. mBio, v. 9, n. 2, 1 mar. 2018.

SHEAHAN, T. P. et al. Broad-spectrum antiviral GS-5734 inhibits both epidemic and zoonotic coronaviruses. Science Translational Medicine, v. 9, n. 396, 28 jun. 2017.

GREIN J., OHMAGARI N., SHIN D. et al. Compassionate Use of Remdesivir for Patients with Severe Covid-19 [published online ahead of print, 2020 Apr 10]. N Engl J Med. 2020;NEJMoa2007016. doi:10.1056/NEJMoa2007016

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