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Junho Ambiental: O impacto dos antibióticos na água


Como já discutimos, o crescente consumo de antibióticos gera incontáveis impactos ambientais. Diversos estudos identificam a presença dessas substâncias em ecossistemas e, hoje, iremos abordar esses impactos nos ambientes aquáticos, que mesmo com medicamentos em baixas concentrações, podem acarretar em consequências irreversíveis, principalmente quando analisados a longo prazo.

O meio de entrada dos antibióticos no ecossistema aquático ocorre principalmente pelo descarte incorreto, tanto doméstico, quanto hospitalar, em pias ou em vasos sanitários, sendo levados diretamente para a rede de esgoto e contaminando a água. Isso é devido, como já explicado no texto “Descarte de contraceptivos”, às Estações de Tratamento de Esgoto no Brasil não serem capazes de eliminar totalmente os resíduos desses medicamentos, por terem propriedades físico-químicas resistentes à degradação e pela metodologia de tratamento dos efluentes. Além disso, essas estações não são capazes de avaliar as concentrações exatas para o devido tratamento e o posterior retorno da água para o meio ambiente. Portanto, o descarte incorreto dos antibióticos é um dos grandes fatores que interfere continuamente na poluição ambiental hídrica.

Esse problema infraestrutural em conjunto com o elevado consumo de antibióticos representa grandes potenciais que intensificam a pegada ecológica humana no ambiente. Em geral, ao ingerirmos um determinado medicamento, uma parte dele é metabolizada (quimicamente alterada) e absorvida pelo nosso organismo, e a outra é excretada pela urina ou pelas fezes. Nesse sentido, os resíduos dessas substâncias chegam às redes de esgoto e contaminam os recursos hídricos quando não processados de forma correta. Como consequência, existe essa soma: por um lado temos o descarte incorreto e, por outro, a excreção natural devido à metabolização e consumo dessa classe de medicamentos, contribuindo ainda mais para contaminação do ambiente aquático.

Além disso, o uso de antibióticos na criação de animais de produção, considerada uma das maiores atividades econômicas do país, também aponta para a contaminação do solo, sobre o qual falaremos em outro texto, e da água. Alguns estudos detectaram a presença de antibióticos em baixas concentrações em excretas animais, solo, águas superficiais e subterrâneas próximas às criações, podendo atingir os lençóis freáticos e serem escoados para os corpos hídricos, afetando o ecossistema aquático. Isso comprova que muitos desses medicamentos não são totalmente metabolizados pelo organismo animal, assim como pelo humano, e, por isso, são eliminados pela urina e fezes. A quantidade destes medicamentos utilizados com fins terapêuticos, de profilaxia e como promotores de crescimento animal é exorbitante. Porém, quais são as consequências desse problema ambiental?

Os efluentes das Estações de Tratamento de Esgoto, por não receberem nenhum tipo de tratamento que neutralize os compostos químicos presentes nos antibióticos, são despejados em mananciais com resíduos destes fármacos. Desta forma, mesmo que a água esteja potável, ela retornará ao abastecimento das casas de diversas pessoas contendo esses resíduos, visto que a Estações de Tratamento de Água também não conseguem removê-los. Apesar do baixo risco de toxicidade para humanos, o constante consumo dessa água contaminada pode resultar, a longo prazo, na seleção de bactérias resistentes em nossa microbiota, pois nosso organismo está sendo exposto frequentemente a eles. Assim, dificulta o combate das infecções bacterianas e facilita o aparecimento de bactérias multirresistentes.

Além disso, há os impactos na vida aquática. Ainda que não se tenha informações sobre so efeitos a longo prazo, já foi identificado por alguns pesquisadores que a sensibilidade de algas é afetada ao serem expostas a esses contaminantes, o que influencia no equilíbrio aquático, visto que as algas são a base da cadeia alimentar neste ambiente. Ademais, pesquisas com finalidade de identificar as consequências da exposição de antibióticos em peixes notaram alterações no tecido das brânquias e alterações enzimáticas no fígado, comprovando a alta toxicidade dos antibióticos nos ambientes hídricos. Associado a isso, ainda existe o alto potencial para bioacumulação, resultando no acúmulo de resíduos dos antibióticos nos organismos marinhos ao longo da cadeia alimentar, ocorrendo de forma simultânea, direta ou indiretamente.

Sob essa perspectiva, a venda controlada e a conscientização do descarte correto desses medicamentos tornam-se cada vez mais necessários para minimizar os impactos ambientais, observados, principalmente, a longo prazo. Já existem pesquisas que buscam estratégias capazes de eliminar totalmente esses compostos químicos das águas; porém, como envolvem processos minuciosos e equipamentos de alto custo, ainda é inviável em larga escala. Por isso, é ímpar o consumo responsável e o descarte adequado de antibióticos e, para isso, existem farmácias e drogarias que realizam o recolhimento desses e de outros medicamentos, bem como de suas embalagens. Assim, estes insumos poderão ser incinerados e não irão conferir risco de contaminação ao ecossistema aquático.

Refêrencias: https://www.ufrgs.br/farmacologica/2018/11/29/farmacos-na-agua/ https://www.biologianet.com/curiosidades-biologia/resistencia-bacteriana.htm#:~:text=A%20resist%C3%AAncia%20ocorre%2C%20principalmente%2C%20em,o%20processo%20torna%2Dse%20acelerado. https://www.msdmanuals.com/pt/casa/medicamentos/administra%C3%A7%C3%A3o-de-medicamentos-e-farmacocin%C3%A9tica/metabolismo-dos-medicamentos#:~:text=Uma%20vez%20no%20f%C3%ADgado%2C%20as,enzimas%20do%20citocromo%20P%2D450. https://oswaldocruz.br/revista_academica/content/pdf/Edicao_15_TANNUS_Michel_Moreira.pdf https://www.amigosdanatureza.org.br/publicacoes/index.php/forum_ambiental/article/download/1406/1428 https://web.archive.org/web/20140714141741/http://www.univicosa.com.br/noticia/1659/pegada-ecologica-e-biocapacidade-o-que-e-isso

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